PUBLICADO NO ESTADÃO
MIGUEL REALE JÚNIOR
Há dez anos José Serra disputava as eleições presidenciais. De lá para cá participou de todos os pleitos: Prefeitura de São Paulo em 2004, do qual saiu vencedor; em 2006 concorreu ao governo do Estado e ganhou com facilidade no primeiro turno. Não tentou a reeleição de governador, mas encarou em 2010 o desafio de nova disputa pela Presidência. Em 2012 tergiversou, disse não ser candidato à Prefeitura, mas as pesquisas, que o colocavam em primeiro lugar disparado, o animaram a tentar novamente ser prefeito.
Trata-se de demonstração precisa de desgaste de material: o nome bem conhecido, que surge mais facilmente à mente do eleitor meses antes das eleições, vai sofrendo rejeição ao longo do processo eleitoral. Mais do mesmo. Lula, ao apresentar Fernando Haddad como candidato a prefeito no Programa do Ratinho, antes do período eleitoral, disse: “O povo votará no novo porque a população de São Paulo quer mudança”. Haddad timbrou sua campanha no tema “o homem novo para um tempo novo”.
Agora Lula antecipa a indicação de candidato a governador de São Paulo, mencionando que o pleiteante ao Palácio dos Bandeirantes pelo PT deve ser o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, estreante em eleições.
Seria a apresentação de uma novidade eleitoral a fórmula de sucesso válido para todos os quadrantes? O que vale para São Paulo vale para a Grande São Paulo? O que constitui um mote forte para São Paulo pode não ser para uma cidade vizinha. E Lula sabe disso, pois em Diadema, município ao lado da capital, saiu em defesa da reeleição de seu candidato, Mario Reali, derrotado nas urnas, dizendo o inverso do que falou sobre Haddad e Serra: “O importante é que o povo não entre numa aventura. Em 1989, o novo era o Collor e vocês sabem o que aconteceu neste país. Não podemos colocar na prefeitura alguém que não administrou nem a própria cozinha”.
Nem se pensa em criticar Lula por sua manifesta “virtude” da incoerência, que pratica com tanta proficiência e desenvoltura. É um caso perdido.
O que importa analisar é se o novo é uma exigência atual da sociedade e se Lula é mesmo um grande eleitor. As urnas demonstram que a receita do novo e o apoio de Lula não constituem, na verdade, uma solução universal, garantidora de vitória. Pois se valeu para São Paulo, não serviu para Belo Horizonte, onde o prefeito foi reeleito contra todo o esforço de Lula e Dilma, que se empenharam a fundo em favor de Patrus Ananias. Marcio Lacerda representava nas eleições o velho e o antagonismo a Lula, mas venceu no primeiro turno.
Já no Recife, o PT, que governa a cidade há 12 anos, se viu derrotado por um candidato novo, Geraldo Julio, eleito no primeiro turno. Humberto Costa, o candidato do PT imposto por Lula, representava o velho, como conhecido político pernambucano, antes vereador, deputado estadual, federal, secretário de Estado, ministro e senador. Figurou só em terceiro lugar, atrás do candidato do PSDB.
O candidato a prefeito de Salvador também sustentado por Lula e Dilma, o petista Nelson Pelegrino, deputado estadual e federal, foi vencido por político de franca oposição ao lulismo, o neto de ACM, o ACM Neto, uma mistura do velho e do novo, revivendo a imagem do avô, legendário coronel da política baiana. O PT perdeu também em Fortaleza, sofrendo, portanto, derrota nas principais capitais do Nordeste. No Norte foi vencido em Manaus e Belém.
Em Campinas, Jonas Donizette, antigo vereador, deputado estadual e federal, ganhou a eleição de pretendente novo, apoiado por Lula e Dilma, o ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Mário Pochmann.
Como se vê, as eleições municipais têm sua lógica própria. Nem Lula nem o novo são os fatores determinantes do sucesso ou da derrota. As eleições municipais seguem preferências muito específicas dos problemas vividos pelas cidades. Não se conseguiu nacionalizar as eleições municipais. O mensalão e o apoio de lideranças nacionais tiveram sua influência, mas não foram determinantes.
A condenação do núcleo político do PT, em vista de sofisticado esquema de manutenção do poder por meio de corrupção, apesar de colar essa marca no partido, pouco respingou na opção municipal: em geral não se deixou de votar em Haddad por ter a cúpula do PT sido condenada nem se votou por essa razão em Serra. Tal não significa desinteresse pelo mensalão, mas sensível compreensão de que o voto hoje em candidato a prefeito não condena nem absolve o passado de terceiros. Será, contudo, diverso no pleito para presidente.
A vitória de Haddad não constitui a absolvição do PT nem a condenação do Supremo Tribunal Federal, e em especial do ministro relator Joaquim Barbosa, visto como fidedigno portador da justiça por muitos eleitores do petista.
Resumindo, em muitas cidades o novo foi vencedor, bem como Lula e Dilma foram os ganhadores. Mas, ao mesmo tempo, o velho venceu e Lula e Dilma foram derrotados em colégios eleitorais importantes. É preciso, portanto, examinar cada município em suas condições particulares e em face das figuras dos concorrentes: em São Paulo, foi Haddad que ganhou ou Serra que perdeu, visto seu elevado índice de rejeição?
O processo do mensalão deve perdurar como exemplo. Não cabe condenar alguém tão só para intimidar os demais membros da sociedade, mas a condenação justa de fatos comprometedores do cerne das instituições democráticas pode ajudar a que a classe política venha a exercer corretamente suas funções.
Em suma, a condenação no mensalão não se refletiu nas eleições municipais, nem se pode considerar Lula, Aécio Neves ou Eduardo Campos como grandes eleitores, pois cada município apresentou razões próprias para suas opções conforme características específicas.
MIGUEL REALE JÚNIOR
Há dez anos José Serra disputava as eleições presidenciais. De lá para cá participou de todos os pleitos: Prefeitura de São Paulo em 2004, do qual saiu vencedor; em 2006 concorreu ao governo do Estado e ganhou com facilidade no primeiro turno. Não tentou a reeleição de governador, mas encarou em 2010 o desafio de nova disputa pela Presidência. Em 2012 tergiversou, disse não ser candidato à Prefeitura, mas as pesquisas, que o colocavam em primeiro lugar disparado, o animaram a tentar novamente ser prefeito.
Trata-se de demonstração precisa de desgaste de material: o nome bem conhecido, que surge mais facilmente à mente do eleitor meses antes das eleições, vai sofrendo rejeição ao longo do processo eleitoral. Mais do mesmo. Lula, ao apresentar Fernando Haddad como candidato a prefeito no Programa do Ratinho, antes do período eleitoral, disse: “O povo votará no novo porque a população de São Paulo quer mudança”. Haddad timbrou sua campanha no tema “o homem novo para um tempo novo”.
Agora Lula antecipa a indicação de candidato a governador de São Paulo, mencionando que o pleiteante ao Palácio dos Bandeirantes pelo PT deve ser o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, estreante em eleições.
Seria a apresentação de uma novidade eleitoral a fórmula de sucesso válido para todos os quadrantes? O que vale para São Paulo vale para a Grande São Paulo? O que constitui um mote forte para São Paulo pode não ser para uma cidade vizinha. E Lula sabe disso, pois em Diadema, município ao lado da capital, saiu em defesa da reeleição de seu candidato, Mario Reali, derrotado nas urnas, dizendo o inverso do que falou sobre Haddad e Serra: “O importante é que o povo não entre numa aventura. Em 1989, o novo era o Collor e vocês sabem o que aconteceu neste país. Não podemos colocar na prefeitura alguém que não administrou nem a própria cozinha”.
Nem se pensa em criticar Lula por sua manifesta “virtude” da incoerência, que pratica com tanta proficiência e desenvoltura. É um caso perdido.
O que importa analisar é se o novo é uma exigência atual da sociedade e se Lula é mesmo um grande eleitor. As urnas demonstram que a receita do novo e o apoio de Lula não constituem, na verdade, uma solução universal, garantidora de vitória. Pois se valeu para São Paulo, não serviu para Belo Horizonte, onde o prefeito foi reeleito contra todo o esforço de Lula e Dilma, que se empenharam a fundo em favor de Patrus Ananias. Marcio Lacerda representava nas eleições o velho e o antagonismo a Lula, mas venceu no primeiro turno.
Já no Recife, o PT, que governa a cidade há 12 anos, se viu derrotado por um candidato novo, Geraldo Julio, eleito no primeiro turno. Humberto Costa, o candidato do PT imposto por Lula, representava o velho, como conhecido político pernambucano, antes vereador, deputado estadual, federal, secretário de Estado, ministro e senador. Figurou só em terceiro lugar, atrás do candidato do PSDB.
O candidato a prefeito de Salvador também sustentado por Lula e Dilma, o petista Nelson Pelegrino, deputado estadual e federal, foi vencido por político de franca oposição ao lulismo, o neto de ACM, o ACM Neto, uma mistura do velho e do novo, revivendo a imagem do avô, legendário coronel da política baiana. O PT perdeu também em Fortaleza, sofrendo, portanto, derrota nas principais capitais do Nordeste. No Norte foi vencido em Manaus e Belém.
Em Campinas, Jonas Donizette, antigo vereador, deputado estadual e federal, ganhou a eleição de pretendente novo, apoiado por Lula e Dilma, o ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Mário Pochmann.
Como se vê, as eleições municipais têm sua lógica própria. Nem Lula nem o novo são os fatores determinantes do sucesso ou da derrota. As eleições municipais seguem preferências muito específicas dos problemas vividos pelas cidades. Não se conseguiu nacionalizar as eleições municipais. O mensalão e o apoio de lideranças nacionais tiveram sua influência, mas não foram determinantes.
A condenação do núcleo político do PT, em vista de sofisticado esquema de manutenção do poder por meio de corrupção, apesar de colar essa marca no partido, pouco respingou na opção municipal: em geral não se deixou de votar em Haddad por ter a cúpula do PT sido condenada nem se votou por essa razão em Serra. Tal não significa desinteresse pelo mensalão, mas sensível compreensão de que o voto hoje em candidato a prefeito não condena nem absolve o passado de terceiros. Será, contudo, diverso no pleito para presidente.
A vitória de Haddad não constitui a absolvição do PT nem a condenação do Supremo Tribunal Federal, e em especial do ministro relator Joaquim Barbosa, visto como fidedigno portador da justiça por muitos eleitores do petista.
Resumindo, em muitas cidades o novo foi vencedor, bem como Lula e Dilma foram os ganhadores. Mas, ao mesmo tempo, o velho venceu e Lula e Dilma foram derrotados em colégios eleitorais importantes. É preciso, portanto, examinar cada município em suas condições particulares e em face das figuras dos concorrentes: em São Paulo, foi Haddad que ganhou ou Serra que perdeu, visto seu elevado índice de rejeição?
O processo do mensalão deve perdurar como exemplo. Não cabe condenar alguém tão só para intimidar os demais membros da sociedade, mas a condenação justa de fatos comprometedores do cerne das instituições democráticas pode ajudar a que a classe política venha a exercer corretamente suas funções.
Em suma, a condenação no mensalão não se refletiu nas eleições municipais, nem se pode considerar Lula, Aécio Neves ou Eduardo Campos como grandes eleitores, pois cada município apresentou razões próprias para suas opções conforme características específicas.
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