Como Erenice fez da falência um negócio milionário
Reportagem
de VEJA desta semana mostra como, mesmo quebrada, empresa dirigida pelo marido
de ex-ministra deveria ter perdido a concessão, mas está sendo vendida por uma
fortuna
Rodrigo Rangel e
Adriano Ceolin
AMIGOS NO PODER -
A Unicel, empresa de telefonia dirigida por José Roberto Camargo, marido
da ex-ministra Erenice Guerra, deu calote em clientes, acumula dívidas que
ultrapassam 150 milhões de reais e agora está prestes a realizar o seu mais
ambicioso negócio (Fotos: Andre
Dusek/AE, Cristiano Mariz e Claudio Gatti)
A telefonia, por exigir investimentos bilionários, não
é o ramo mais indicado para aventuras. Com exceções. Há pouco mais de dois
anos, a revelação das atividades paralelas de Erenice Guerra resultou na
derradeira crise política do governo Lula e custou-lhe a poderosa cadeira de
chefe da Casa Civil. Do rosário de ilegalidades que levaram a sua demissão, a
mais ousada foi a movimentação paralela para viabilizar a Unicel, pequena
empresa de telecomunicações notória apenas por receber inúmeros e inexplicáveis
favores do governo.
Sem capacidade financeira, sem capacidade técnica
conhecida e sem experiência alguma no ramo, a Unicel conseguiu autorização para
operar a telefonia celular em São Paulo - o maior e mais disputado mercado da
América Latina. Em um ambiente dominado por gigantes multinacionais, seu plano
tinha tudo para dar errado. E deu. A empresa não conseguiu honrar os
compromissos, deu calote em clientes e fornecedores e acumulou uma dívida
superior a 150 milhões de reais. Em Brasília, porém, quem tem amigos no governo
pode sempre contar com uma ajuda nos momentos de desespero. A
Unicel tem amigos.
Nas economias de mercado, fusões e aquisições são
negócios corriqueiros, mas a transação que envolve a Unicel e a Nextel chama
especial atenção. Primeiro porque, a rigor, a Unicel não deveria ter o que
vender. Sua concessão para operar só saiu por obra e graça da então ministra
Erenice Guerra, que no auge do poder procurou pessoalmente conselheiros e
técnicos da Anatel para defender a empresa dirigida por seu marido, José Roberto
Camargo. A
concessão saiu, e a Unicel entrou no mercado com o nome de fantasia AEIOU. Em
pouco tempo, a AEIOU estava atolada em dívidas e, com apenas 22 000 clientes,
sumiu do mapa em 2010, deixando para trás queixas amargas de consumidores e
diversos processos na Justiça. A própria Anatel, a maior credora da empresa
falida, publicou um comunicado no qual informava que a Unicel funcionava em
“local incerto e não sabido”. Seria o fim da linha para qualquer outra empresa.
Não para a Unicel.
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