Josias de Souza
Dilma Rousseff
irritou-se com a sugestão do procurador-geral Rodrigo Janot de que o
governo deveria promover as “reformulações cabíveis” na Petrobras,
inclusive “a substituição de sua diretoria.” A presidente ordenou ao
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que convocasse os
jornalistas.
Após cobrir de
elogios a presidente da Petrobras, Graça Foster, o doutor Cardozo
pontificou: “A posição do governo é de que não há nenhuma razão objetiva
para que os atuais gestores da Petrobras sejam afastados do comando da
empresa.” Erro. A ficha de Dilma Rousseff ainda não caiu, mas seu
(des)governo fez de Graça Foster uma demissão inevitável, esperando para
acontecer.
A presidente da
Petrobras é uma senhora austera. Dilma enxerga nela uma honestidade
incrível. E a plateia, impressionada com a petrorroubalheira, passou a
ver em Graça Foster uma inocência inacreditável. Incrível e
inacreditável são palavras da mesma família. Mas têm significados
distintos.
A honestidade de
Graça é incrível porque é difícil de acreditar que, no meio de tanta
lama, ainda é possível encontrar algo tão bom quanto uma reputação
inatacável. Sua inocência é inacreditável porque não dá para acreditar
que uma mulher como Graça, que dedicou a vida à Petrobras, que ocupa
postos de direção desde Lula, é ingênua a ponto de se transformar em
mais uma nefasta ilustração do lema “eu não sabia”.
Não adianta brigar
com o inevitável. Diante de um pé d’água, a primeira coisa a fazer é
encontrar um guardachuva. A segunda, é abrir o guardachuva. A terceira, é
tentar se molhar o mínimo possível. Alcançada por um temporal, Graça
Foster está ensopada. Ela até dispunha de guardachuva. Mas teve de
usá-lo para proteger Dilma.
Você deve se
lembrar: a sujeira da Petrobras começou a vazar pelas bordas do tapete
depois que Dilma, numa nota redigida de próprio punho, afirmou que teria
reprovado a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, se não
lhe tivessem sonegado informações vitais sobre o negócio. Desde então,
Graça Foster perambula pelo noticiário como um exemplo de administradora
inocente, usando sua respeitabilidade e sua boa reputação para
justificar o injustificável.
As arcas da
Petrobras vinham sendo violadas pelo PT, PMDB e PP desde Lula. Dilma,
que foi ministra de Minas e Energia, presidente do Conselho de
Administração da estatal, chefe da Casa Civil e mãe do PAC fingiu-se de
cega e enrolou-se na bandeira da ética. E não soube de nada! Este é um
governo que arrenda a Petrobras à tesouraria clandestina dos partidos e à
caixa registradora cartelizada das empreiteiras corruptoras. Mas é
Graça Foster quem coloca a boa estampa a serviço da preservação do
disfarce.
O Brasil conhecia
pouco a diretora de Gás e Energia que Paulo Roberto Costa, Renato Duque e
Nestor Cerveró chamavam de colega até fevereiro de 2012, quando Dilma a
nomeou presidente da Petrobras. Mas o destino da Graça Foster de 2014
não lhe estranho ao país. Ela construiu uma carreira notável para acabar
como uma marionete que não consegue demitir o apadrinhado que Renan
Calheiros acomodou no comando da Transpetro.
As circunstâncias
fizeram de Graça Foster administradora de um caos que, até prova em
contrário, ela não ajudou a causar. Mas o excesso de inocência, por
inacreditável, acabou grudando na presidente da Petrobras não a estampa
de uma gestora eficiente, mas a aparência de uma espécie de virgem de
Sodoma e Gomorra.
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