De Elio Gaspari, Folha de S. Paulo:
A prática é velha: reforça-se o orçamento dos hierarcas nomeando-os para conselhos de empresas. Ela vale tanto na administração federal como nas dos Estados. Tome-se o exemplo de Dilma Rousseff. Em 2006, como chefe da Casa Civil, tinha um salário mensal de R$ 8.362. Em 2007, ganhava R$ 8.700 mensais como conselheira da Petrobras e de sua distribuidora. À Casa Civil ela ia todo dia, aos conselhos, uma vez a cada dois meses (e às vezes chegava atrasada).
O conselho de Itaipu, joia da coroa do comissariado, paga R$ 19 mil. Em 2012 havia treze ministros nas Bolsas Conselho e os doutores Guido Mantega e Miriam Belchior fechavam os meses com um total de R$ 41,5 mil. A comissária Belchior estava no conselho da BR Distribuidora, para quê, não se sabe.
Quando o PT estava na oposição, reclamava disso. No governo, acostumou-se. Agora chegou a conta. Como integrante (e presidente) do Conselho da Petrobras, Dilma é responsável pela aprovação da ruinosa compra de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos. A repórter Andreza Matais obteve do Planalto uma nota, escrita pela doutora, informando que a decisão foi tomada com base num relatório “técnica e juridicamente falho”. A ver. A ruína estava em duas cláusulas do contrato e elas viriam a custar US$ 820 milhões à empresa.
A explicação segundo a qual esses dispositivos só chegaram ao conhecimento dos conselheiros depois da aprovação do negócio é plausível. Mesmo que a doutora só tenha percebido a ruína depois, era a poderosa chefe da Casa Civil. Quem pode tirar quaisquer dúvidas sobre o caso é o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que está preso na Policia Federal.
Numa estrutura séria, seria demitido o presidente da empresa, ou iriam embora os conselheiros que se julgaram desinformados. Os conselhos de estatais não são sérios, são bicos. O caso da refinaria acertou a testa da doutora Rousseff, a gerentona que pode ser acusada de viver num mundo de verdades próprias, mas nunca se meteu em transações tenebrosas. A vida é arte, errar faz parte. Enquanto houver hierarcas em boquinhas, o erro será a arte
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