Três dias após o fim do julgamento da Ação Penal 470, mais conhecida como mensalão, os militantes do Partido dos Trabalhadores decidiram desmontar o acampamento ao lado da sede do Supremo Tribunal Federal (STF), apelidado pelos petistas de “trincheira da resistência”. O fim das atividades foi “celebrado” com um churrasco no começo da tarde desse domingo, preparado pelos petistas no local. O convescote celebrava também as vitórias obtidas pela defesa dos réus no julgamento dos chamados embargos infringentes. Na quinta-feira, o Supremo inocentou o ex-deputado João Paulo Cunha do crime de lavagem de dinheiro. No fim de fevereiro, José Dirceu, Delúbio Soares, Genoino e outros cinco condenados conseguiram também anular a condenação por formação de quadrilha.
O aniversário de 68 anos de José Dirceu, comemorado nesse domingo, também foi lembrado nos discursos. Dirceu esteve representado pela assessora política, a historiadora Maria Alice Vieira, e pela filha Joana Saragoça, de 24 anos. “A última vez que eu o vi foi na quarta-feira antes do carnaval, antes da votação dos infringentes. Ele estava muito animado, e a notícia que eu tive da minha madrasta e da minha irmã, que o viram depois, é de que ele ficou aliviado. Considerou um passo importante”, disse Joana à reportagem. Ela contou que só terá contato com Dirceu quarta-feira, quando pretende parabenizá-lo. Ainda segundo ela, Dirceu e os outros petistas na Papuda costumavam pedir informações sobre o acampamento, montado inicialmente na entrada do presídio. “Para eles era uma alegria saber que havia uma juventude que estava ao lado deles, que lembrava da história deles”, afirmou. A jovem preferiu não comentar o fato de ter de passar o aniversário longe do pai. “Legal não é, né?”
A família do ex-presidente do PT José Genoino enviou uma carta, endereçada “A todo o pessoal da trincheira”. O texto é assinado pela filha de Genoino, Miruna, e foi lido em voz alta. “De lá para cá muita coisa aconteceu, muita, mas o mais importante é que graças a vocês sempre soubemos que não estávamos sozinhos. Hoje, quando ganhamos a batalha dos infringentes e meu pai por enquanto pode receber tratamento adequado, digo do fundo do coração: muito obrigada”, escreveu ela. Genoino cumpre pena de prisão domiciliar em Brasília desde novembro passado, por supostos problemas de saúde. “A vida realmente está muito, muito, muito complicada, todos os dias, desde que meu pai perdeu a liberdade”, continua a carta.
Outro personagem do caso do “mensalão” presente ao churrasco foi o advogado de Delúbio Soares, Luiz Egami. Entre uma baforada e outra de um cigarro eletrônico, o advogado considerou os infringentes como uma “expectativa que se realizou”. “Era uma expectativa que se realizou, de uma correção do julgamento. Eles sempre confiaram no Poder Judiciário, eles cumpriram sempre o que STF decidiu. E tudo que eles queriam era cumprir a execução da pena”, disse ele. “Eles querem simplesmente cumprir a pena normalmente, poder estudar, poder trabalhar, poder remir a pena, e voltar para o seio da família”, disse o advogado. O clima de celebração foi quebrado em parte pelo desaparecimento, desde sábado, de João Paulo Oliveira Neto, um dos participantes do acampamento. Ele participava de uma pescaria no Rio Corumbá, em Goiás. “O evento perdeu o sentido de festa, porque ele foi um dos primeiros a permanecer no acampamento, desde a época da Papuda”, disse uma petista.
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