O governo da presidente Dilma Rousseff terá de contar com boa dose de
celeridade dos municípios brasileiros para que a promessa de contratar
seis mil creches no país até o fim deste ano se materialize em unidades
entregues à população. Até a última segunda-feira, apenas 22% das
unidades previstas pelo Proinfância haviam sido concluídas. No Paraná,
essa proporção é um pouco melhor. O estado teve 147 das 556 unidades
selecionadas pelo programa concluídas – 26% do total. Em geral, as
prefeituras alegam que a demora na entrega das unidades se deve a
dificuldades em encontrar terrenos compatíveis com o modelo construtivo
das creches.
Enquanto as novas unidades não ficam prontas, o país segue longe de
atingir uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE). O texto prevê
a ampliação do atendimento às crianças com até 3 anos para 50% até
2020, além da universalização das matrículas em pré-escolas (4 a 5 anos)
até 2016. Dados cruzados do IBGE com o MEC mostram que, no ano passado,
1,7 milhões de crianças estavam matriculadas em creches públicas (menos
de 20% do total dessa faixa etária) e 3,6 milhões frequentavam a
pré-escola – pouco mais de 60% do total.
O Ministério da Educação diz ter repassado recursos a 1.348 creches
concluídas em todo o país e que outras 2.365 já estão em obras. Além
disso, diz a pasta federal, mais de três mil unidades estão em ação
preparatória – estágio no qual a obra já está contratada, mas ainda não
saiu do papel. Com esses números, pode-se entender que a promessa de
contratar as seis mil unidades está quase cumprida, mas para que todas
elas fossem entregues à população até o fim do ano seria necessário que,
pelo menos, 13 novas creches fossem inauguradas por dia no país.
Demanda - Em Ponta Grossa, por exemplo, nenhuma das 21 unidades
selecionadas no programa foi concluída. “Temos 11 obras em andamento e
outras oito que serão contratadas por meio da metodologia inovadora”,
diz a diretora de Gestão Educacional, Simone Neves, referindo-se ao
método construtivo adotado no ano passado pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento para a Educação (FNDE) para reduzir prazos e custos das
obras do Proinfância.
Dificuldade semelhante atingiu Cascavel, onde 1,5 mil crianças estão na
fila por uma vaga na creche. A cidade do Oeste paranaense já inaugurou
sete unidades pelo Proinfância, mas ainda há quatro em obras e outras
duas em estágios preparatórios. A Jardim Petrópolis, por exemplo, está
sendo construída há dez meses e tem apenas 67% de execução. Já o CMEI
São Cristóvão, tinha 38,5% de execução em dezembro e deveria ser
entregue neste mês.
Folha salarial pesa para os municípios
Apesar dos recursos federais viabilizarem a construção dos prédios das
creches do Proinfância, cabe às prefeituras arcar com os custos de
pessoal. Em Telêmaco Borba, por exemplo, essa já é uma preocupação. No
município, além de uma unidade já inaugurada, há outra em obras e mais
duas aguardando seleção no programa.
“Se houver qualquer problema futuro [com as novas creches], talvez seja
do ponto de vista financeiro para contratação de pessoal. A folha
[salarial] da educação é vinculada à do município e temos de respeitar a
lei de Responsabilidade Fiscal”, diz Claudicéia Rosa Nievola,
secretária interina de Educação.
A creche já inaugurada custou R$ 600 mil e precisou de R$ 81 mil do
município porque os valores dados pela União já estavam desatualizados
no momento da obra. A obra foi selecionada no fim de 2010, mas começou
apenas em fevereiro de 2012.
Para agilizar, programa usa regime da Copa
Para tentar driblar percalços na licitação de obras e materializar sua
promessa de campanha, a presidente Dilma Rousseff também liberou, no ano
passado, a utilização do Regime Diferenciado de Contratação (RDC) para
as obras do Proinfância. O sistema dá agilidade ao processo ao permitir a
licitação da obra e do projeto em um único edital e diminuir a
quantidade de fases recursais.
Com o RDC e novos métodos construtivos, estima-se que o prazo para a
edificação das creches caia em até seis meses. Em setembro, R$ 4 bilhões
dos R$ 7,6 bilhões do Proinfância (52% do total) já tinham sido
contratados.
Mãe esperou dois anos por uma vaga em Quatro Barras
A espera de Rosilene Martins Perez para matricular o filho em uma
creche de Quatro Barras durou dois anos. Ela procurou uma unidade
publica logo após o pequeno Thalisson completar cinco meses, mas – assim
como ocorreu com sua outra filha, Tatieli, hoje com 14 anos – ela ouviu
que não havia vagas no momento.
Com a negativa, Rosilene largou o emprego com carteira registrada em
uma confecção de roupas para cuidar do bebê. “Fiquei um ano em casa e
depois minha sogra passou a olhá-lo. Ainda bem que tinha a vó por perto,
porque não tinha condições de pagar”.
Na semana passada, Rosilene recebeu uma ligação da prefeitura
informando que a espera havia terminado. Com a construção do CMEI Santa
Luzia, unidade no bairro de mesmo nome, Thalisson enfim vai entrar na
creche. “Além de liberar minha sogra, vai ser ótimo para ele conviver
com outras crianças e iniciar o processo de educação escolar”, comemora a
mãe. A creche custou R$ 600 mil de investimento federal, mais R$ 68 mil
investidos pela prefeitura para obras de infraestrutura e construção de
um muro. A inauguração ocorre no próximo dia 30, segundo a
administração municipal.
Responsabilidade
Responsabilidade
Conforme a Constituição, a educação infantil de 0 a 5 anos é
responsabilidade municipal. Para atingir as metas do Plano Nacional de
Educação, porém, a União decidiu apoiar a construção dessas unidades. A
contrapartida do município é ceder o terreno e dar infraestrutura ao
local, além de arcar com a operação com recursos do fundo nacional de
educação, o Fundeb.
Justificativas
Justificativas
Em nota, o secretário de Educação de Cascavel, Valdecir Antônio Nath,
disse que o atraso no CMEI Jardim Petrópolis se deu por dificuldades em
se adaptar o terreno ao projeto e que o CMEI São Cristóvão deve ser
concluído no prazo. Em Ponta Grossa, a secretária de Educação, Esméria
Saveli, disse que a atual gestão encontrou “12 projetos paralisados” em
2012, com entraves como tamanho de terrenos, mas que já foram feitas as
readequações necessárias. (Da Gazeta do Povo/Foto: Cadini/Divulgação/Prefeitura de Cascavel).
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