Do blog de Josias de Souza, no UOL
Num instante em que o sistema prisional está pendurado de ponta-cabeça nas manchetes, uma parceria firmada entre o presídio feminino do Paraná e a empresa têxtil Lafort oferece ao país um exemplo alvissareiro. O acerto resultou na profissionalização de 500 detentas nos últimos três anos.
A cadeia fica na cidade paranaense de Piraquara. Fabricante de roupas, a Lafort se interessou em participar de um programa chamado ‘Começar de Novo’. Trata-se de uma iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para recolocar presos no mercado de trabalho. No caso da Lafort, a experiência começou com cinco presidiárias.
A empresa ensinou uma profissão às detentas. Habilitou-as a “customizar” peças de roupas. Customização é uma dessas palavras que os falantes do português tomaram emprestado da língua inglesa. Vem de ‘customer’, ‘cliente’ em inglês. Customizar não é senão personalizar a mercadoria, aproximando-a do gosto da clientela.
As presidiárias da cadeia de Piraguara aprenderam coisas como tricotar, bordar, aplicar botões e fazer barras de calças. Com isso, diz a dona da Lafort, Irit Czerny, as detentas saem do xadrez “com uma profissão”. O programa tem mão dupla. A empresa se serve do trabalho das presas. E estas recebem um salário mínimo mensal para aprender um ofício.
A remuneração é depositada numa conta de poupança em nome da presa, como manda a lei. A jornada de trabalho é de seis horas. Há fila defronte da unidade da Lafort na cadeia, conta a empresária Irit. Nas suas palavras, as presas “gostam de trabalhar, pedem para levar as peças para as celas no fim do dia, querem trabalhar nos feriados.”
Quer dizer: presidiário tratado com violência responde com mais violência. Preso que recebe oportunidade de ressocialização reage com interesse e empenho.
A Lafort acaba de ganhar do CNJ o ‘Selo Começar de Novo’, um reconhecimento às 500 almas que a empresa ajudou a devolver às ruas com uma perspectiva diferente da reincidência no crime. “A sociedade tem de melhorar. Cada um de nós tem responsabilidade nessa tarefa”, afirma a empresária Irit Czern.
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