MAURO PEREIRA
Escrever sobre o Bolsa-Família realmente requer cuidados redobrados, principalmente se o texto for crítico ao programa. A reação da nefasta patrulha “progressista” é instantânea. Para fazer jus ao soldo, seus integrantes executam com incontido prazer a tarefa para a qual foram treinados: desqualificar e intimidar o autor, recorrendo a mentiras, impropérios e ameaças. Os patrulheiros da miséria erradicada por decreto presidencial jamais admitirão que o Bolsa-Família é a prova mais contundente do quanto o PT pode ser canalha e fingem desconhecer que a empulhação em curso nada mais é do que uma das mais vergonhosas usurpações de programas alheios.
Filho bastardo de programas sociais de governos que o antecederam o do PT, o Bolsa-Família não demorou muito para ser desmascarado pelos próprios petistas, alguns de alta patente, como um projeto de institucionalização da miséria com finalidades sordidamente eleitoreiras. Indagado pelo ex-petista Hélio Bicudo sobre os objetivos do programa, José Dirceu, então chefe da Casa Civil do governo Lula, foi taxativo: “Serão 12 milhões de bolsas que poderão se converter em votos em quantidade três ou quatro vezes maior. Isso garantirá a reeleição de Lula”.
Os resultados das eleições presidenciais foram tão expressivos, e aguçaram de tal forma a ganância dos petistas, que Lula e seus sectários logo descobriram que a manipulação desse mundo regido pelo sofrimento ajudaria a consolidar o projeto de perpetuação no poder perseguido colocado em prática a partir de 1.º de janeiro de 2003. Hoje são 22 milhões de famílias atendida pelo programa. Esse número assustador pressupõe que cerca de 90 milhões de brasileiros têm sua subsistência diretamente vinculada à generosidade governista. Para piorar, não consigo vislumbrar o menor esforço das autoridades para modificar essa realidade trágica. Ao contrário. Instigados pela deflagração descarada da campanha pela reeleição da presidente Dilma, seus agentes estão empenhados em aumentar esse universo. Até o dia da eleição de 2014, não sobrará um único miserável que não esteja agasalhado sob as asas cinicamente protetoras da galinha de votos de ouro do PT.
Acredito, entretanto, que programas com esses perfis, principalmente quando mantidos por tempo demasiado sem demonstrar nenhuma evolução significativa no padrão de vida dos beneficiados, jamais trouxeram – e nem trarão em tempo algum ─ qualquer vestígio de justiça social até porque, analisados com mais acuidade, revelam-se apenas meros paliativos desprovidos de consistência e substância à medida em que vulgarizam a dignidade ao abrirem mão da contrapartida indispensável daqueles que se beneficiam.
É nessa fina e delicada fresta que o solo árido da promiscuidade se fertiliza e a metamorfose acontece, transformando a proteção almejada em submissão adquirida. Antes de redimir os miseráveis, prestam-se apenas à asquerosa tarefa de institucionalizar a pobreza. Depois de institucionalizada, o poder central sempre a manterá monitorada, disponível para ser manipulada como importante trunfo político e eleitoral, ficando sua utilização, ou não, a mercê do comprometimento com os princípios éticos e morais do inquilino da vez do Palácio do Planalto.
Diante desse cenário desolador, fica a indagação. No projeto de perpetuação no poder em andamento, o que seria mais importante para o PT. A redenção da miséria ou a rendição dos miseráveis? A extraordinária amplitude dos números pode ser um indicativo. Dilma Rousseff terá minha admiração se até o final do mandato reduzir em pelo menos 20% o número de brasileiros assistidos pelo Bolsa-Família, tendo como compensação a garantia de reintegrá-los ao setor produtivo, com a auto-estima restaurada através da qualificação profissional, do emprego decente e do salário justo.
O resto é só politicagem barata.
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