quarta-feira, 8 de julho de 2015

Para artistas, intolerância religiosa é ignorância e regressão da sociedade


Giselle de Almeida
Do UOL, no Rio
Henri Castelli e a mãe de santo Neide

  • Henri Castelli e a mãe de santo Neide
Ignorância, absurdo, caça às bruxas. Entre os famosos ouvidos pelo UOL, casos de intolerância religiosa que têm ganhado as páginas do noticiário com frequência, seja em comentários ofensivos nas redes sociais ou agressões na vida real, mostram, de certa forma, que a sociedade está regredindo.
Em maio, o ator Henri Castelli enfrentou comentários negativos da própria ex, assessora de imprensa Juliana Despirito, quando publicou em sua conta no Instagram uma foto da filha, Maria Eduarda, vestida de baiana com sua mãe de santo, Neide Oyá, fundadora e dirigente do Grupo União Espírita Santa Bárbara (Guesb). O caso está sendo investigado, e Juliana será indiciada por intolerância religiosa.
Quando a menina Kailane Campos, de 11 anos, foi apedrejada na cabeça ao deixar um culto de candomblé, no Rio, Henri saiu em sua defesa. "Eu me pergunto: pra que isso? Que Deus é esse que está dentro das pessoas que praticam intolerância e preconceito. Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou a ter amor ao próximo, praticar a verdadeira caridade, ajudar uns aos outros. Por que tanta agressividade? Vamos nos respeitar e nos amar independente da raça, classe social, religião ou opinião política", escreveu o ator.

Divulgação
"Parece que estamos na Idade Média. Se eu vir acontecer algum caso na minha frente, vou tomar uma atitude", diz Cissa
A apresentadora Cissa Guimarães, que fazia o programa na TV "Viver com Fé", do qual fez um livro, compara a intolerância religiosa a qualquer tipo de preconceito, que ela repudia fortemente. "Já disse aos quatro ventos que acredito em anjo da guarda, na mãe Oxum, adoro Jesus Cristo, faço meditação budista... Prego a liberdade em todos os sentidos. Não podemos deixar que aconteça esse absurdo, em pleno século 21, essa caça às bruxas. Parece que estamos na Idade Média. Se eu vir acontecer algum caso na minha frente, vou tomar uma atitude. Sou a primeira a falar, essa é a minha postura. Não tenho a menor paciência com qualquer tipo de intolerância. É uma questão de cidadania", garante. O baiano Luis Miranda, que teve orientação católica desde muito jovem, mas mantém uma relação forte com o candomblé, diz que nunca sentiu na pele discriminação por conta de sua religiosidade, mas sabe que é uma exceção. "De uma certa forma, a classe artística tem quase um laço protetor. Mas o povo de santo costuma levar olhares preconceituosos na rua. É acintoso, as pessoas se sentem no direito de humilhar, de dizer desaforo", conta ele, que defende a tese de que crenças diferentes podem coexistir em harmonia.
A festa católica para Santo Antônio em Barra de Jacuípe, onde mora, e as celebrações para Ogum (sincretização do santo na Bahia) são um exemplo. "Era muito lindo de ver, as baianas em seus rituais religiosos e a procissão católica convivendo tão lindamente. Era respeitoso. Vejo como se estivéssemos regredindo. Essa coisa preconceituosa tem muito a ver com o avanço da bancada evangélica no congresso", opina.

Reprodução/Instagram/antoniolm
O ator Luis Miranda registra a festa para Santo Antônio e Ogum na Bahia

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