Governo acha que o Congresso vai barrar CPI por temer ex-diretor
Paulo Roberto Costa sabe muito sobre muita gente
Na tentativa de convencer os insatisfeitos da base de apoio
governista a não aprovar uma Comissão Parlamentar de Inquérito da
Petrobrás, emissários da presidente Dilma Rousseff vão usar como
argumento a sobrevivência política dos próprios aliados. O motivo é que
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal preso pela Polícia Federal na
semana passada durante a Operação Lava Jato, pode causar estragos se
for convocado a depor no Congresso.
Suspeito de participação em esquema de lavagem de dinheiro num caso
que, judicialmente, não tem relação com o centro da atual crise da
Petrobrás – a compra de uma refinaria em Pasadena, nos EUA -, Costa foi
indicado para a Diretoria de Abastecimento da estatal pelo PP, mas
acabou “adotado” pelo PMDB e também pelo PT.
Em 2006, quando a compra da polêmica refinaria foi referendada pelo
Conselho de Administração da Petrobrás, à época presidido por Dilma,
então chefe da Casa Civil do governo Lula, Costa estava a pleno vapor no
cargo. Ele foi um dos diretores mais atuantes na tentativa de
consolidar o negócio.
Em conversas reservadas, deputados e senadores do PT afirmam que o
maior problema, agora, não é a investigação do contrato de Pasadena,
mas, sim, a possível descoberta das ramificações políticas das ações de
Costa na Petrobrás.
No Planalto, auxiliares de Dilma dizem ter certeza de que a CPI não
passará porque ninguém da base aliada quer puxar esse fio da meada, nem
mesmo o “blocão”, grupo que reúne partidos dispostos a criar
dificuldades ao governo no Congresso. Segundo um interlocutor da
presidente, “os dois PMDBs, o da Câmara e o do Senado, têm interesse na
Petrobrás”.
Há dúvidas até mesmo quanto ao comportamento da oposição, embora o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso esteja agora defendendo a CPI.
Dirigentes do PT afirmam que, se a CPI for criada, aliados do governo
vão lembrar o afundamento da maior plataforma petrolífera do mundo, a
P-36, ocorrida em março de 2001, no governo FHC, na Bacia de Campos.
Dizem, ainda, que todos podem perder, mesmo quem aposta nos dividendos
eleitorais.
Pré-candidato do PSDB ao Planalto, o senador mineiro Aécio Neves
articula a criação de uma comissão mista, unindo Câmara e Senado. Ele
terá reunião nesta terça-feira, 25, com aliados para discutir a
apresentação do pedido oficial de investigação parlamentar.
Aloysio Nunes pergunta: quem colocou os “jabutis” Paulo Roberto e Ceveró na Petrobras?
Entre seus colegas de oposição, porém, o ceticismo já está instalado.
“O contexto não é mais o mesmo de uma semana atrás, quando os partidos
da base estavam dispostos a apoiar uma investigação mais aprofundada.
Agora eu fico cético com a prisão do Paulo Roberto. Quero ver qual será o
apetite desses partidos, se haverá a mesma boa vontade de antes da base
para colaborar”, disse nesta segunda o deputado federal Rodrigo Maia
(RJ), ex-presidente do DEM.
O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) ironizou: “Jabuti, sozinho, não
sobe em árvore. Quem colocou os jabutis Paulo Roberto Costa e Nestor
Cerveró na cúpula da Petrobrás tem muita força no Congresso e tudo fará
para impedir investigações parlamentares, sobretudo a CPI sobre a
negociata de Pasadena”.
Nestor Cerveró, citado pelo tucano, era diretor da área internacional
da Petrobrás quando o contrato foi assinado. Ele foi o autor do “resumo
técnico” no qual o Conselho de Administração da estatal se baseou para
aprovar a compra. Dilma diz que só apoiou a compra porque esse “resumo
técnico” não trazia cláusulas importantes do contrato que viriam a
encarecer a compra.
O rebelado líder da bancada do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha,
contemporizou nesta segunda ao tratar do assunto. Afirmou que ainda não
tem o “termômetro” de seus correligionários. “Só vou sentir a disposição
da minha bancada amanhã (terça).”
Requerimentos. Enquanto a CPI ainda é uma incógnita, os opositores
tentarão convidar Cerveró para depor. A aposta dos partidos é que a
demissão dele na semana passada do cargo que ocupava na BR Distribuidora
pode motivá-lo a comparecer e complicar a situação de Dilma. Os
requerimentos serão apresentados nesta segunda nas Comissões de
Fiscalização e Controle, Segurança Pública, Minas e Energia, Relações
Exteriores e Defesa do Consumidor.
A principal aposta é que Cunha e seu “blocão” referendem pelo menos o
convite na Comissão de Fiscalização e Controle, que é comandada pelos
peemedebistas. O DEM ainda protocolará pedidos de convocação dos
ministros Guido Mantega (Fazenda) e Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral
da União) para falar sobre o caso.
A crise na Petrobrás foi deflagrada na quarta-feira, 19, após o
Estado revelar que Dilma apoiou a compra da refinaria de Pasadena. Em
resposta ao jornal, a presidente disse que só fez isso porque seu
“resumo técnico” era falho e “incompleto”. Informações do jornal O
Estado de S. Paulo.