Audácia dos bofes – Se até agora a
política era considerada a arte da incoerência, a partir de quinta-feira (22)
pode ser rotulada facilmente como uma homenagem ao descaramento. Isso porque,
na noite de ontem, o PMDB abusou da ousadia e levou ao ar um programa político
em que a estrela maior foi ninguém menos que o papa Francisco.
Durante boa parte do programa, aproximadamente oito minutos, atores contratados
para falar sobre democracia dividiam a cena com o chefe da Igreja Católica, que
em sua recente estada no Brasil mostrou ser muito popular.
Que os políticos desconhecem as fronteiras da
imoralidade todos sabem, mas pegar carona na popularidade e na simpatia do papa
foi uma mostra de inconteste de falta de escrúpulos. O mais interessante é que
somente nos dois minutos finais é que o programa do PMDB exibiu a imagem de
políticos. Numa mostra de que a falta de bom senso não tem limite, pelo menos
no PMDB, na telinha da tevê apareceu uma trinca que é verdadeira ode ao pecado:
Michel Temer, vice-presidente da República; Renan Calheiros, presidente do
Senado Federal; e Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados.
Nos derradeiros dois minutos do programa, a estrela
foi Michel Temer, que na maior parte do tempo apareceu ao lado do papa
Francisco. A coincidência da abusada incursão televisiva do PDMB ficou por
conta de Renan Calheiros, que horas antes de o programa ir ao ar ocupou as
manchetes nacionais por ser o mais novo operador do milagre da multiplicação.
Com um salário bruto de R$ 25,6 mil mensais, Renan comprou por R$ 2 milhões uma
mansão em Brasília, sendo que parte desse montante será pago em parcelas
semestrais de R$ 152 mil.
O programa do PMDB, um direito garantido pela
legislação eleitoral, teve o seu lado bom. Mostrou aos brasileiros, mais uma
vez, que políticos fazem qualquer para ludibriar a opinião pública. Até mesmo
pegar carona na imagem do papa. Mas depois que a ateia Dilma Rousseff posou de
carola no Vaticano, vale tudo, como cantava o saudoso Tim Maia.
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