O presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, disse que a presidente Dilma Rousseff mentiu ao falar sobre o financiamento para a construção do Porto de Mariel, em Cuba, durante o último debate do segundo turno da campanha eleitoral, em outubro do ano passado. Assim que Dilma garantiu na TV ao então candidato Aécio Neves que o empréstimo para a obra teria como garantia a Odebrecht, responsável pelo projeto, o presidente da construtora não se conteve. Em mensagem a um dirigente, interceptada pela Polícia Federal, Marcelo foi taxativo:
“Ela (Dilma) disse que as garantias são da empresa, e não do governo de Cuba. Ela está mentindo”, escreveu ele.
A acusação está numa troca de mensagens entre Marcelo Odebrecht e Benedicto Barbosa da Silva Junior, um dos executivos do grupo. O material integra novo relatório de investigação da PF sobre o esquema de corrupção na Petrobras.
Marcelo mandou a mensagem quando Dilma e Aécio discutiam sobre as obras do porto cubano. O tucano criticava o empréstimo do BNDES para a obra. Quando o senador alegou que “o governo brasileiro aceitou que essas garantias fossem dadas em pesos cubanos num banco na ilha de Cuba”, Dilma rebateu:
— Sempre que se financia uma empresa, as cláusulas de um financiamento diz respeito a essa empresa. As garantias são elas quem dão, não é Cuba, quem dá a garantia é a empresa brasileira para o BNDES.
Depois de escrever que Dilma estaria mentindo, Marcelo sugeriu que Benedicto passasse um torpedo para a “irmã”, tratando do que chamou de mentira da presidente, mas volta atrás na decisão: “Passe um torpedo para a irmã. O financiamento e as garantias são do governo de Cuba. Aliás, melhor deixar quieto, vai que ela (a irmã) mostra seu torpedo para alguém lá!”.
PF NÃO INFORMA QUEM SERIA “IRMÔ CITADA
O financiamento do Porto de Mariel, a 40 quilômetros de Havana, foi alvo de polêmica na campanha de 2014. A obra é investigada em dois inquéritos onde o Ministério Público apura se houve irregularidade na concessão de empréstimo do BNDES.
O porto custou US$ 957 milhões, dos quais US$ 682 milhões foram financiados pelo banco. Documentos encaminhados à CPI do BNDES pelo próprio banco indicam que parte dos contratos foi garantida pelo governo cubano por meio do Banco Nacional Cubano (BNC). Num deles, é informado que o Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações (COFIG) “aprovou em 29 de janeiro de 2010 cobertura do Seguro de Crédito à Exportação com lastro no Fundo de Garantia às Exportações ao projeto Porto de Mariel”. No site do BNDES, a garantia informada sobre os empréstimos concedidos ao porto é “seguro de crédito/FGE”.
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O Fundo de Garantia às Exportações (FGE) é formado com dinheiro do Tesouro Nacional e administrado pelo próprio BNDES. O comitê é composto apenas por integrantes do governo federal.
Procurada pelo GLOBO, a Odebrecht “lamentou o vazamento de informações” e reafirmou que a troca de mensagens apenas esclareceu o tema, para que “não prevalecesse informação incorreta”.
O BNDES, assim como o Palácio do Planalto, não responderam às questões encaminhadas pelo GLOBO. A assessoria da empreiteira informou apenas que os dados sobre a operação estavam disponíveis no site do banco.
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