De O Globo
SÃO PAULO — No mais duro discurso contra os seus opositores, a presidente Dilma Rousseff desafiou nesta terça-feira, durante a cerimônia de abertura do 12º Congresso da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em São Paulo, os que querem interromper o seu mandato. Disse que os adversários praticam um “golpismo escancarado” e tentam construir de formar artificial o seu impeachment. O evento se transformou em um ato em defesa da petista contra uma possibilidade de abertura de um processo no Congresso para o seu afastamento do cargo.
Para Dilma, que estava ao lado do ex-presidente Lula, a oposição não aceita a derrota na eleição. A presidente indagou quem tem “biografia limpa” para atacar a sua honra. Prometeu ainda lutar pelo seu mandato e convocou os trabalhadores a apoiá-la, incendiando os cerca de 2.500 presentes no auditório.
– A sociedade brasileira conhece os chamados moralistas sem moral. E conhece porque o meu governo e o governo do presidente Lula proporcionou o mais enfático combate à corrupção de nossa história. Eu insurjo contra o golpismo. Quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa, para atacar a minha honra? – indagou a presidente.
Dilma diz que os ataques dos opositores começaram ao final do segundo turno da eleição, por “inconformismo”, com a derrota.
– O que antes era inconformismo, se transformou num claro desejo de retrocesso político. Isso é um golpismo escancarado – discursou a petista.
Na avaliação de Dilma, a oposição não “tem pudor” em trabalhar apenas por seus interesses.
– Na busca incessante de encurtar o seu caminho ao poder, tentam dar um golpe. Querem construir de forma artificial o impedimento de um governo eleito pelo voto direto – afirmou a presidente, sendo interrompida pela plateia aos gritos de “não vai ter golpe”.
A petista acusou os opositores de se colocarem contra os interesse do país:
– Jogam sem nenhum pudor no quanto pior, melhor. Pior para a o população e melhor para eles.
Dilma destacou que os adversários hoje são contra medidas que apoiavam quando estavam no poder:
– O interessante é que eles votam contra medidas que eles próprios aprovaram no passado.
Acrescentou ainda que os rivais espalham o “ódio e intolerância” e tentam tirar o seu mandato sem que exista “qualquer fato jurídico ou político”.
– Esse discurso golpista não é apenas contra mim, mas contra aquilo que eu represento. Eu represento as conquistas do governo Lula. A presidente, ainda afirmou que conta com a CUT e com os trabalhadores, para defendê-la contra o impeachment.
– Nenhum trabalhador pode baixar a guarda, é preciso defender a legalidade.
Prometeu ainda resistir.
– O golpe, que todos os inconformados querem cometer, é mais uma vez, como sempre na história do nosso país, contra o povo. Mas podem ter certeza, não vão conseguir.
Os discursos anteriores ao da presidente foram marcados pelo mesmo tom. Na fala mais dura, o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felício, tacou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
– Ninguém vai dar golpe na Dilma.Não vamos ter golpe nem dos militares nem do Parlamento, que é presidido por um corrupto.
Dilma ainda afirmou que irá rebater a reprovação das contas de seu governo pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Disse que as pedalas fiscais são “apenas atos administrativos” praticados por todos os governos anteriores ao seu.
– Não tivemos nenhum interesse a não ser realizar nossas políticas sociais e de investimento. Questiona-se os repasses da Caixa para o Minha Casa Minha Vida e para o Bolsa Família, ou seja, para os programas sociais.
A presidente decidiu participar de última hora da abertura do Congresso da CUT. Oficialmente, a ida de Dilma ao evento foi confirmada pela CUT antes do Palácio do Planalto.
A agenda foi decidida de hoje e seria parte da estratégia articulada pelo Planalto para atrair apoio nas ruas, especialmente entre os movimentos sociais, contra a proposta de impeachment da presidente.
Nesta terça-feira, durante a abertura de congresso de pequenos agricultores em São Bernardo do Campo, Lula disse que, além de convidar Dilma para o congresso da CUT, ele iria chamá-la para encontrar-se com os agricultores, “para ir ao encontro do povo, para receber oxigênio novo”.
— Se ela for na CUT, vou dizer: Dilma, vá ao Congresso dos pequenos agricultores. Porque quando a gente governa e as coisas não estão muito bem, não tem outro remédio senão a gente ir ao encontro do povo para receber oxigênio novo, para ganhar nova força, novas motivações, para que faça sentido a gente governar. Porque foi exatamente para gente como vocês que nós inventamos de criar um partido político — disse Lula.
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