Não, a culpa não é das mulheres!
Uma propaganda do governo federal para supostamente homenagear AS mulheres acaba homenageando UMA mulher: é personalismo oblíquo. Agora, dizem lá, elas podem ser tudo o que quiserem ou sonharem — ou algo assim. Ao telespectador cabe emendar: “Inclusive presidente da República”. Dilma deixa de ser presidente mulher, o que é republicano, para ser mulher-presidenta, o que introduz na universalidade da disputa democrática o viés de gênero. Amplia-se o escopo da luta particularista e se reduz o da política, que se torna menos universalista.
Esse é o mal essencial de todos os particularismos: em vez de ampliar o universo das possibilidades — e isso é democrático —, estreita-o em nome da reparação. Quem compreende isso que escrevo acaba provando um biscoito fino; que não entende jamais entenderá. Há uma outra perversidade nessa história: se Dilma fizer um governo aplaudido, terá sido por suas notáveis qualidades particulares; se o contrário, tratava-se, afinal, de um governo de mulheres, com suas fragilidades genéricas. O discurso das minorias tem um inequívoco horizonte obscurantista. Sigamos.
MST e Via Campesina resolveram entrar no espírito da coisa. Agora que as mulheres podem ser tudo o que sonharem, nada melhor do que demonstrar que também podem se comportar como vândalos — obedecendo a uma pauta que está longe das disputas de gênero. Anteontem, 70 mulheres ligadas ao MST invadiram a superintendência do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Recife (PE). Com paus e pedras, botaram literalmente para quebrar. Seis salas foram depredadas. É a forma de o MST comemorar o Dia Internacional da Mulher — 8 de março. Para Jaime Amorim, coordenador do MST em Pernambuco, ações como aquela são “normais do conflito”. Falo sobre este rapaz daqui a pouco.
No Rio Grande do Sul, as comandadas de João Pedro Stedile — mas de sua outra empresa ideológica, a Via Campesina — invadiram uma unidade da Brasken, em Triunfo, para protestar contra o plástico verde, produto da empresa feito à base de cana. Na Bahia, o alvo foi uma plantação de eucaliptos, em Eunapolis. Em Aracaju, mil mulheres acamparam numa praça. Como se vê, elas podem ocupar qualquer papel, inclusive o de agentes da truculência, do atraso e da estupidez.
Jaime Amorim
Visto tudo de perto, nada pode ser mais antigo do que a pauta desses movimentos que sobrevivem à custa do dinheiro público, alimentados por cestas básicas que contêm a comida barata produzida pelo agronegócio, com o qual eles querem acabar! Arre! Não há questão de gênero que consiga esconder esse fato.
Amorim, que é, na prática, o nº 2 do MST, é um dinossauro truculento. Em 2006, contei aqui quem é esse catarinense exportado para Pernambuco para gerenciar o padrão de qualidade do MST naquele estado. Ele conseguiu o prodígio de fazer a seção mais violenta do movimento. Está na “luta” faz tempo. Em 2000, invadiu e ameaçou atear fogo num navio de bandeira liberiana porque carregado com milho transgênico. Terrorismo! Em Pernambuco, carros do Incra já foram incendiados. No governo FHC, os sem-terra do Estado, sob seu comando, jogaram cocô — sim, cocô — na caixa d’água do Incra. Ele cuida ainda de um aparelho do MST em Caruaru, onde revela a agricultores os mistérios de Marx, Che Guevara e Lênin. Não estou brincando nem exagerando.
Foi em Pernambuco que dois policiais foram feitos prisioneiros num assentamento dos sem-terra. Um deles foi barbaramente torturado e morto em fevereiro de 2005. Como era só um pernambucano pobre e não se chamava Dorothy Stang, ninguém acendeu velas por ele, e Dom Tomás Balduíno, amigo de Amorim, não encomendou a sua alma. Escrevi sobre isso à época — se quiser ler, está aqui. É compreensível que ele ache “normal” a depredação de um prédio público.
Encerro
A “mulher presidente”, as “mulheres do MST”, as “mulheres isso-e-aquilo” são fantasias destinadas a criar um ruído marginal no que é essencial. Dilma é só a face mais visível do poder petista, que não é novo. As mulheres do MST são só uma expressão de gênero de uma velha truculência, que não tem sexo. Haverá, por acaso, uma utopia especificamente feminina num corte de Orçamento ou numa invasão da propriedade alheia?
É claro que as chamadas “questões de gênero” existem. Mas elas devem servir para aclarar as dificuldades de mulheres e homens, não para obscurecer a política.
Por Reinaldo Azevedo
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