segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A obra-prima do mestre Guzzo sobre essa farsa chamada Brasil


REYNALDO ROCHA
Tempos difíceis. Após ter a casa assaltada – com um cão morto a tiros – leio um texto histórico, eterno, uma obra-prima do mestre J. R. Guzzo. O que era um dia pesado ficou insuportável.
A imagem que Guzzo nos mostra, e que foi o estopim do texto que é uma perfeita expressão de verdade, dói. Por que deixamos o país chegar a este ponto? Onde estávamos que não impedimos a tragédia? Falar, alertar, gritar não foi suficiente.
Nós, que nos orgulhamos de ser somente decentes, temos uma imensa parcela de culpa. Vivemos num país destruído, arrasado. Não agimos. Não fizemos valer a força que acreditávamos ter. Nem sei se a temos. Esperamos sempre que outros façam por nós o que é nossa obrigação fazer.
Quantos de nós ficamos em nossas casas esperando o resultado das manifestações populares? Quantos esqueceram que bastava um voto para alterar o desastre e sepultar o terror?
Perdemos décadas para uma ditadura sangrenta, outras para os tigres asiáticos que em 20 anos avançaram investindo em educação. Depositamos nossas esperanças num presidente (em agonia no dia da posse) eleito indiretamente, para encerrarmos a longa noite da ditadura.
Escolhemos errado um caçador de marajás que sonhava tornar-se o único marajá. Conseguimos expulsá-lo a pontapés. Passamos a crer que podíamos muito. E então nasceu o câncer silencioso que se fez metástase. Comprando consciências, alugando entidades sociais, pregando farsas como verdades absolutas, perenizando a miséria como forma de facilitar a continuidade do mal, destruindo a cultura, menosprezando o conhecimento e a pesquisa.
O resultado está expresso no melhor texto que li em décadas – o do mestre Guzzo – sobre a farsa chamada Brasil. E numa foto que o motivou a escrever.
Somos todos pobres-diabos a carregar uma elite nas costas. Somos cavalgados por uma nova classe dominante.
Nossas lutas e vitórias foram ignoradas. Nosso passado está sendo reescrito. A ladroagem, vulgaridade, corrupção são dominantes. Hoje, são valores. Eles estão tendo sucesso agindo assim. Montados em todos nós. Cavalgaduras.
Resta a mim estar nas ruas no dia 13 de março. Talvez para chorar. Mas também para reafirmar que é até possível matar cavalos que nasceram livres. Cavalgá-los, nunca.

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