Até onde o vereador João Claudio Derosso (PSDB), presidente da Câmara Municipal de Curitiba, vai segurar o rojão das denúncias que caíram em seu colo bem no início da disputa pela prefeitura de Curitiba, que só acontece daqui a pouco mais de um ano? Só um cegueta não vê que o poderoso dono de cinco mandatos como rei da Câmara é a primeira vítima desta batalha iniciada no momento em que as urnas da eleição de outubro passado se fecharam e os votos dos curitibanos indicaram um candidato forte, Gustavo Fruet, que pertencia ao ninho tucano tanto quanto o atual prefeito, Luciano Ducci, que é do PSB, mas faz parte do grupo da primeira órbita que gravita em torno do governador Beto Richa. Derosso entrou em campo com seu poder de fogo, ponta de lança, tentou de todas as maneiras demover Fruet de sua intenção de ser o candidato do grupo, mesmo porque era o candidato natural a ser vice na chapa de Ducci. Fruet, escaldado, segurou a peteca, esticou o elástico e fez o que muita gente não acreditava que fizesse: rompeu e saiu do partido. O cacique Valdir Rossoni tentou evitar. Disse com todas as letras que a saída de Fruet faria um estrago enorme, mesmo se ele não vencer a eleição para prefeito. Há quem acredite também que, faturando a prefeitura, Fruet fique com a mesma envergadura política de Beto Richa. Foi por isso que o grupo do poder, capitaneado pelo governador, espalhou que tinha achado a decisão precipitada, mas, no fundo, gostou, porque tem ideia do poder de fogo que tem, afinal, as máquinas do governo do Estado e da prefeitura da capital, quando acionadas, são como patrolas alimentadas por combustível atômico – passam por cima. O tiro certeiro que abateu Derosso, quer ele tenha culpa no cartório ou não, foi deflagrado exatamente quando Fruet bateu asas dos PSDB para iniciar os entendimentos com os partidos que, no mínimo, querem quebrar as pernas do grupo que tomou o Palácio das Araucárias antes que eles gostem da brincadeira e se estabeleçam por vários mandatos. O PDT de Osmar Dias e o PT do casal de ministros Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann são os mais interessados. Dias pelo motivo óbvio da segunda derrota consecutiva na tentativa de ser governador do Paraná. Perdeu para Beto Richa e poderá ter mais uma chance se Gustavo Fruet se filiar ao PDT e derrubar Luciano Ducci no ano que vem. Os petistas, apesar de estarem sob o fogo cruzado da chamada imprensa nacional, acreditam que, ao lado de Fruet, ele como prefeito de Curitiba, a pavimentação da campanha de Gleisi Hoffmann como candidata ao governo do Estado em 2014 estará praticamente concluída, faltando apenas as obras de acabamento que serão devidamente providenciadas pelo governo federal. O poder de Derosso, no meio desse jogo bruto, ficou do tamanho de um pedalinho no lago do parque Barigui, mas só que em águas revoltas. Dizer que Gustavo Fruet é o articulador dessa tacada seria desonesto com a biografia do político, sempre equilibrado, ponderado, honesto e avesso ao jogo sujo. Mas hoje o ex-deputado federal representa uma ala do poder político do Paraná – e, nesses casos, como controlar os anseios? Fruet não daria ordem para o tiro em Derosso. Mas também não impediria, se soubesse. Desde o ano passado tinha-se a informação de que, depois dos “Diários Secretos”, que fizeram o favor de implodir parte do podre histórico da Assembleia Legislativa do Paraná e pautaram a nova administração a tomar providência e caminhar dentro do que seria a coisa normal, sabia-se nos bastidores que a Câmara seria motivo de reportagens do jornal Gazeta do Povo. Um mês antes de a primeira reportagem explodir o suposto esquema de favorecimento de Derosso para sua mulher, a j0rnalista Claudia Queiroz, através de contrato com a agência de publicidade dela, o levantamento feito pelo Tribunal de Contas do Paraná estava nas mãos de quem tinha interesse em acertar Derosso. Este recebeu a pancada e tentou segurar o tranco, como segura até agora. Luciano Ducci imediatamente mandou recado de Paris, onde estava, afirmando que o nome de Derosso não tinha sido cogitado para ser vice. Hummmmmm. Beto Richa manteve-se de boca fechada, como sempre. Coube ao deputado estadual Valdir Rossoni, cacique tucano, presidente da Assembleia, dar o sinal para que a maioria silenciosa e obsequiosa da Câmara, que sempre apoio o líder, dissesse algo como “olha, Derosso, infelizmente não vamos poder te abraçar nessa hora porque você está se afundando na areia movediça, como nos filmes do Jim da Selva”. Rossoni disse em discurso, com todas as letras, que o presidente da Câmara deveria ser afastado do partido, já que ali no Legislativo Estadual o PSDB está fazendo um trabalho de faxina e moralização. Assim, como num passe de mágica, os vereadores da base de apoio a Luciano Ducci resolveram assinar o pedido de instalação de uma CPI para investigar as denúncias contra o presidente. Como em política leva-se a sério movimentos como esse, um ato patético, ficou por isso mesmo. Mas Derosso resiste, principalmente à insistência lógica de que deveria se afastar para que, como dizem os oposicionistas comandados pela bancada do PT, a investigação não fique contaminada. Por comandar por tanto tempo o Legislativo Municipal, é óbvio que João Claudio Derosso tem muita bala e energia para tentar se segurar e, muito provavelmente, fazer um grande acordo onde vai negociar o pescoço para não ser sacrificado nos finalmente. Melhor seria se chutasse o balde e contasse tudo o que sabe das entranhas do poder, coisa que não vai acontecer. O fato é que o episódio demonstra bem qual a única maneira de fatos como este aparecerem para quem paga a conta. Não fosse a guerra pelo poder, tudo continuaria como antes. Isso é política
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