Entrevista concedida a Gabriel Castro, de Brasília, publicada no site de VEJA
‘VÃO ROUBAR. E MUITO.’, DIZ ROMÁRIO SOBRE OBRAS DA COPA
O Baixinho, deputado atuante, afirma que atraso em boa parte das construções é proposital e critica o governo – mas se mostra otimista com a chegada de Felipão à seleção
O deputado federal Romário (PSB-RJ) tem, aos poucos, deixado de ser reconhecido apenas como uma celebridade que chegou à Câmara. Tornou-se um crítico ferrenho da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da organização da Copa do Mundo no Brasil.
Com menos de 500 dias para o Mundial de futebol, o ex-artilheiro diz que o legado do torneio será insuficiente e afirma que a demora em algumas obras alimenta a corrupção.
Ao site de VEJA, ele também falou do retorno de Luiz Felipe Scolari à Seleção e contou o que pensa sobre o argentino Lionel Messi, eleito o melhor jogador do mundo.
O senhor tem feito muitas críticas ao andamento das obras da Copa. Mas, recentemente, dois estádios já foram entregues. A situação melhorou?
Pelo que eu tenho acompanhado através da Comissão de Esporte da Câmara e da minha assessoria, as obras que já estavam avançadas deram uma acelerada. Mas as que estavam atrasadas continuam atrasadas. Algumas, inclusive, não vão poder ser entregues porque não há mais tempo suficiente – principalmente obras que se referem à mobilidade urbana, que seriam, na minha opinião, o maior legado dessa Copa do Mundo para o brasileiro. São obras de transportes, alargamento de ruas, aeroportos, acessibilidade. Infelizmente, a Copa não vai ter o legado que deveria.
Os governos priorizaram os estádios e se esqueceram das outras obras?
Acho que a ideia é entregar os estádios. E acredito que nem todos os doze estarão 100% na época da Copa do Mundo. Mas, em se tratando de brasileiros, a gente sempre dá aquele jeitinho. Então os doze serão entregues e, desses doze, quatro dificilmente terão vida própria – os estádios de Manaus, Cuiabá, Brasília e Natal. Vão servir para tudo, menos para jogo de futebol. Talvez, quem sabe, aproveitem em alguns dias do mês para fazer show porque vão ser arenas; mas, fora isso, esses quatro estádios para mim são micos.
Faltou planejamento ou execução?
Eu acho que faltaram várias coisas. Faltou principalmente o governo, lá atrás, quando aceitou a Copa do Mundo, reconhecer que o Brasil tem muitos problemas para resolver, principalmente na saúde e na educação. O governo não poderia ter aceito algumas imposições da Fifa em relação, por exemplo, aos estádios e à Lei da Copa. O Brasil estava com vontade de sediar a Copa do Mundo e, para isso, em outras palavras, abriu as pernas. E o povo brasileiro, depois de 2014, vai pagar por isso.
O senhor acha que ainda virão à tona casos de corrupção envolvendo as obras da Copa?
Isso aí eu não acho, eu tenho certeza. Muitas coisas erradas aparecerão. Muitas dessas obras, talvez 80% de todas que se referem à Copa do Mundo, estão atrasadas justamente para entrar naquele momento de obra de emergência, em que algumas não precisam de licitação e em outras a licitação não é como teria de ser. Esse é o momento de as pessoas roubarem. E muito.
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