Publicado no Estadão desta sexta-feira
Ainda não é
tarde, mas esgota-se rapidamente o tempo para que a diplomacia
brasileira reveja sua indefensável posição de apoio ao presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro, e passe a lhe exigir respeito aos valores
básicos da democracia em seu país. O erro de avaliação do governo
petista – motivado por imperativos ideológicos, contrários ao interesse
nacional – ficou ainda mais claro quando a líder oposicionista
venezuelana María Corina Machado expôs, no Senado brasileiro, o caráter
ditatorial de Maduro e cobrou dos países democráticos da América Latina
uma postura mais crítica em relação às graves violações de direitos
protagonizadas à luz do dia pelo regime chavista. Não é possível falar
em “diálogo” enquanto o governo brasileiro der toda a atenção apenas a
Maduro, reservando aos opositores do presidente uma olímpica indiferença
– atitude que, nas palavras de María Corina, equivale a “cumplicidade”.
A
perseguição a María Corina simboliza a truculência do regime chavista.
Uma das principais deputadas da Venezuela, eleita com expressiva
votação, ela foi cassada no final de março por decisão unilateral do
presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, líder da tropa de
choque do chavismo. O argumento é de que a parlamentar havia violado a
Constituição ao integrar momentaneamente a delegação do Panamá na
Organização dos Estados Americanos (OEA) – servidores públicos
venezuelanos não podem aceitar cargos de governos estrangeiros sem
autorização legislativa. Mas María Corina não aceitou cargo nenhum; ela
fora convidada pelo Panamá para expor na OEA a situação real de seu
país. Ademais, mesmo que tivesse sido irregular, a atitude de María
Corina deveria ter sido julgada não pela Assembleia, e sim pelo Tribunal
Supremo de Justiça. Foi-lhe negado o direito de defesa, e ao tribunal
restou o triste papel de homologar a cassação. Do Blog Augusto Nunes-Veja Online
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