domingo, 6 de abril de 2014

Fecha cerco entre Vargas e doleiro

Mensagens revelam que Alberto Youssef prometeu “independência financeira” a parlamentar paranaense
Mensagens de texto interceptadas pela Polícia Federal dentro das investigações em torno da Operação Lava Jato devem complicar ainda mais a situação do deputado federal André Vargas (PT). Em conversas com o petista, o doleiro Alberto Youssef, preso em Curitiba, fala que está trabalhando para fazer a “independência financeira” dos dois. Em outro trecho, ele afirma que está “no limite” e precisa “captar”. “Vou atuar”, responde Vargas. Novas revelações apontam ainda que o patrimônio do parlamentar cresceu 50 vezes desde que ele entrou na vida pública.
A ligação entre Vargas e Youssef, de quem o petista diz ser amigo há duas décadas, começou a ser exposta no início da semana com a divulgação de que o petista viajou de férias com a família para a Paraíba em um jatinho arranjado pelo doleiro. Os dois também trataram de interesses da empresa química Labogen, ligada a Youssef, que teria sido usada para fazer remessas de US$ 37 milhões ao exterior, de acordo com a PF.
Nas conversas, eles fazem menção a contatos com o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha. Por meio de “contatos políticos” como o de Vargas, segundo depoimento à Polícia Federal de um dos sócios da empresa, o doleiro conseguiu financiamento de R$ 31 milhões da pasta – o acordo foi cancelado na última quinta-feira. Para isso, a Lagoben teria se associado à EMS, laboratório com o maior faturamento no país, de R$ 5,8 bilhões em 2012. A suspeita da PF é que a Labogen, cuja folha de pagamento é de apenas R$ 28 mil, foi usada apenas para pagar propina a servidores públicos, por causa da diferença de porte entre as empresas.
“Estamos mais fortes agora. Vi documento com o Pedro [Argese, sócio da Lagoben]. Ele estava no voo de volta de Brasília. Ele estava com o documento da parceria com a SEM”, escreveu Vargas para Youssef, em setembro do ano passado via celular. “Cara, estou trabalhando. Fique tranquilo. Acredite em mim. Você vai ver quanto isso vai valer. Tua independência financeira e nossa também, é claro!”, foi a resposta. Na sequência, o doleiro diz que está “enforcado” e precisa da ajuda do petista “para captar”. Vargas garante que “vai atuar”.
Patrimônio
Além das relações suspeitas de Vargas com Youssef, reportagem publicada ontem pelo jornal O Globo mostra que, apenas nos dez anos que separam a primeira eleição, como vereador de Londrina, em 2000, para a última disputa para a Câmara, em 2010, o patrimônio do parlamentar cresceu 50 vezes. Até entrar na política, ele tinha um Monza 1993, avaliado em R$ 9 mil, e a sociedade em três pequenas empresas, cujas cotas somavam R$ 2,1 mil.
A partir de 2006, no entanto, o petista comprou um terreno de 121 mil metros quadrados em Ibiporã por R$ 100 mil, além de outra casa e um lote em Londrina por R$ 21,5 mil. Os tempos de Monza foram esquecidos e o deputado chegou às eleições de 2010 como proprietário de três caminhonetes: Toyota Hilux, GM Tracker e Hyundai Vera Cruz. Na mesma época, tornou-se dono de duas empresas, com capital social de R$ 23,5 mil. De acordo com sua declaração, Vargas guardava R$ 56,2 mil na Caixa. O patrimônio total declarado na eleição passada foi de R$ 572 mil. Em nota, Vargas afirmou que a evolução patrimonial dele “é totalmente compatível com minha renda ao longo desses dez anos”.

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